quarta-feira, 18 de junho de 2014
CAMINHOS DO ASSOMBRO (I)
Caminhos do Assombro
I
O que se há por defesa quando mostra
A face humana mais que face humana?
Quais das misérias da alma nos permitem
Fazer da sarça ardente em farsa ardente?
Pois que debaixo da sombra divina
— Porquanto o que de sombra e de desvelo
Lá se acha, tenho eu cá de sombra e dor —
Tudo é revelação e tudo é assombro.
Não era e então já é, assim resplende
Uma face nova em fenecendo a antiga,
Que furta-me a clareza da ignorância
E deixa para trás só o meu assombro.
Poucas palavras bastam e muitas não
Dirão tudo que ali se mostra e oculta.
Ingente, nasce um nome como as arras
de quiçá um dia agarrar-lhe o interior.
Que nome lhe batiza e lhe consagra,
E em que altar se lhe imola em tinto humor?
E sob que sacerdócio se provê
Seu epitáfio e seu sepultamento?
E gramática qual — ela é atéia —
Permite que novas mentiras jurem
Por verdades arcaicas o que ali
Se mostra sem palavras e entre tantas?
Mas abre-se ante a mim, muito diverso
E todo semelhante, o desespero,
O que não é senão o filho espúrio
Do meu esquecimento e desse assombro;
Do assombro dos momentos em se abre
E se desata, sem que esforço eu faça,
O nó que une ao tanto que confunde
os fios do meu já-ser e meu não-inda;
Mas do esquecimento com que esqueço
Dos fios que se ligam e só recordo
Da confusão que os liga e que os desliga.
(G. M. Brasilino)
I
O que se há por defesa quando mostra
A face humana mais que face humana?
Quais das misérias da alma nos permitem
Fazer da sarça ardente em farsa ardente?
Pois que debaixo da sombra divina
— Porquanto o que de sombra e de desvelo
Lá se acha, tenho eu cá de sombra e dor —
Tudo é revelação e tudo é assombro.
Não era e então já é, assim resplende
Uma face nova em fenecendo a antiga,
Que furta-me a clareza da ignorância
E deixa para trás só o meu assombro.
Poucas palavras bastam e muitas não
Dirão tudo que ali se mostra e oculta.
Ingente, nasce um nome como as arras
de quiçá um dia agarrar-lhe o interior.
Que nome lhe batiza e lhe consagra,
E em que altar se lhe imola em tinto humor?
E sob que sacerdócio se provê
Seu epitáfio e seu sepultamento?
E gramática qual — ela é atéia —
Permite que novas mentiras jurem
Por verdades arcaicas o que ali
Se mostra sem palavras e entre tantas?
Mas abre-se ante a mim, muito diverso
E todo semelhante, o desespero,
O que não é senão o filho espúrio
Do meu esquecimento e desse assombro;
Do assombro dos momentos em se abre
E se desata, sem que esforço eu faça,
O nó que une ao tanto que confunde
os fios do meu já-ser e meu não-inda;
Mas do esquecimento com que esqueço
Dos fios que se ligam e só recordo
Da confusão que os liga e que os desliga.
(G. M. Brasilino)
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