quinta-feira, 20 de setembro de 2012

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A LETRA

A letra legisla as leis
Da dor, do amor, sofrimento
Sofre e exclama o sentimento
Sente o ardor qual vos ardeis

Sente também a agonia
E a agonizar lacrimeja
Em convulsiva euforia
De sangue o choro sobeja

E em apetites carnais
A pena vil transparece
Tudo quanto lhe apetece
Vis sensações animais

Sensações essas se assomem
E assim a letra é lasciva
Do desejar é cativa
Como cativa-se o homem

Do gozo o próprio sabor
Em gáudios gozosos goza
Cheira o gladíolo c'a rosa
Gozando o cheiro da flor

E na apatia está também
Como no sofrer a vida
No não sofrer a ferida
Como o ferir-se de alguém

Cheia está de todo horror
Carrega e traz o assombrar-se
No fogo de sua catarse
Gela o medo interior

Plena do pudor mais nobre
Sem castidade se prostra
No seu encobrir ela mostra
E de mostrar ela encobre

Do descrer como da fé
Fala do sol, dos invernos
Como os anjos, os infernos
A letra é qual o homem é

Cansa, chora, se angustia
Vê que o peso é sobrevindo
Sente as forças se esvaindo
Foge em infanta teimosia

Pulsam as letras o pulsar
Com que pulsa o coração
Pulsa em sua contradição
Como pulsa a onda no mar

Contam a morte e a saudade
As letras, tremendo e tortas
Mas nunca quais letras mortas:
Vivem para a eternidade

(G. M. Brasilino)

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